Comecei a minha incursão pelo verdadeiro país que é TL. Em duas semanas visitei parte de 2 distritos: Ermera e Lautem
Tenho feito estas visitas a título profissional, onde parte das minhas funções integram a validação e verificação do estado das lojas da TT. Como temos 12 fora de Dili, e estas têm sido reestruturadas, quando as obras terminam, vamos fazer uma inauguração, com fitinha azul e bolinhos e cenas :D
Assim, na 1ª semana de trabalho fui a Gleno - distrito de Ermera. Demorei cerca de 3 horas na viagem, conduzida por um local com experiência, o sr. Domingos. O que antes parecia uma eternidade, como ir de Lisboa ao Algarve ou ao Porto, aqui é quase considerado um tirinho.
Gleno é uma cidadezinha plana, que fica num vale, rodeada de montanhas e, claro está, de difícil acesso. Aqui andar nos distritos definitivamente só com jipe.
A loja da TT remodelada sobressai claramente do panorama geral da cidade. É um sítio claro, amplo com luz e arrumadinho. Tem escolas, mercadinhos, casas, posto de segurança e pouco mais. Mas é cidade!
Como foi a minha primeira viagem e ia a trabalho não fui convenientemente preparada com máquina e essas coisas, pelo que terei de lá voltar para poder fotografar convenientemente o que vi da cidade.
O que fica da viagem: um caminho sinuoso, cheio de buracos, crateras mesmo. Pois buracos nós temos em Portugal. Aqui assume-se claramente todo um novo vocabulário para adjetivar aqueles desníveis na "estrada", onde as aspas claramente são propositadas :D
E nesta semana fui a Los Palos - distrito de Lautem. No mapa e na estrada, fica bem longe, na zona sudeste. Para lá chegar, demora-se umas belas 7 horas. Assim, tive de ir no dia anterior e pernoitar num "resort" perto, em Com. As fotos ilustram o sítio. Um local tranquilíssimo à beira mar plantado, humilde mas com qualidade de resort. Diz quem já teve mais experiências que isto não é nada mau (me-do...)
O caminho para chegar a qualquer lugar em TL é só um, por isso não há grande alternativa senão seguir pela "estrada" definida. Fui novamente com a minha diretora e o sr. Domingos que é óóóóóóótimo a conduzir nestas estradas. Se fosse eu a conduzir, teria demorado mais uma boa metade do tempo e com possibilidade de ficar apeada em algum lugar.
Mas o mais deslumbrante de tudo, são as paisagens no caminho para Los Palos. São incríveis, em planícies verdes, cheias de arrozais, com animais por toda a parte, pequenas aldeias à beira da estrada, entre algures e nenhures mas cheias de gente, crianças principalmente, que abundam por todos os sítios, mesmo aqueles inóspito onde achamos que não vamos encontrar ninguém.
No caminho, passámos por Manatuto e Baucau, sempre com paragem obrigatória nas lojas da TT. Comi uma refeição maravilhosa, a melhor que já comi nestas 2 semanas na Pousada de Baucau que tem um aspeto merecedor do nome :)
Quando estávamos em Los Palos, caiu uma carga de água de tal ordem que inviabilizou uma visita a uma lagoa muito conhecida naqueles lados. Ficou para outra altura...(?)
Por causa da chuva diluviana que caiu sobre nós e devido ao excelente estado das estradas, tivemos alguns sustos pelo caminho. na noite anterior, ficámos momentaneamente com o jipe preso num buraco cheio de água, onde não se via nada (nota: não há iliminação pública, por isso quando escrevo que não se via nada, não se via nada MESMO). Com a calma e experiência do condutor, lã conseguimos tirar o carro. Mas isto só podia antever o dia seguinte. Choveu a potes durante um bocado e tivemos as consequências :)
No caminho de regresso, tivemos de parar a certa altura na margem de um rio, pois a ponte que lá existia.... não estava lá.... Ou melhor, ela estar estava mas debaixo de cerca de meio metro de água que jorrava de um lado para o outro arrastando qualquer coisa que por lá se aventurasse no meio.
Já só pensava em como sair dali ou melhor, quando conseguiria sair dali, porque conduzir de noite naquelas estradas não traz a melhor sensação do mundo. Estivemos retidos cerca de 1h30, até que o nível da água começou a baixar e os timorenses, loucos, só podem ser loucos começaram a querer fazer-se á vida.
A sequência abaixo ilustra a loucura de um condutor que, trazendo uma camioneta CHEIA de pessoas, se aventurou a passar o rio, quando este ainda estava bastante forte. Por sorte, safaram-se todos, mas vivemos ali momentos de clara angústia e suspense, quando a camioneta começou a dar de si e a aproximar-se do declive.
Enfim, não são malucos, simplesmente o valor da vida e a noção de perigo não correspondem minimamente aos padrões ocidentais (ou pelo menos ao meu :p)
Para terminar, no caminho ainda pudemos ter um daqueles awkward moments, onde vemos um passageiro numa microlete, mas em vez de ir dentro dela (que seria normal) ou apeado nela (igualmente normal mas a um preço inferior), ia montado numa motorizada que por sua vez ia presa à microlete. E com todo o tempo do mundo, ainda se sentia seguro para estar a fumar e ir agarrado apenas com uma mão. :D
A foto não é fantástica porque foi tirada dentro do carro mas dá para ilustrar o surrealismo da coisa. Lá imaginação para estas coisas eles têm! E mais uma vez, uma brevíssima noção do risco.
Mas à parte o trabalho, o que fica destas experiências?
Um sem número de memórias, de vivências intensas, de colocar o coração nas mãos mas também relativizar a nossa passagem por aqui. Em Timor nota-se muito isso: hoje somos nós, amanhã serão outros e caberá a cada um deixar a sua marca. Mas se não deixar cá uma marca, que cada um de nós saiba pelo menos levar parte de Timor consigo, na memória, na pele, na estrutura do pensamento.
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