10/02/2013
Olá!
Bom, o que tenho para vos contar com uma semana?... Impressões e pouco mais...
À primeira vista, a cidade de Dili é feia, mas depois de procurarmos um pouco melhor, conseguimos ver alguma beleza em pequenas coisas que não saltam à primeira vista. :)
Falando por temas e de forma organizada, ao contrário do que se vê por aqui :)
Organização urbanística:
É uma cidade suja, maltratada e muito pouco cuidada. As pessoas não zelam pela manutenção, têm alguma preguiça em fazer melhor e em cuidar. Então depois o que vemos são várias assimetrias, zonas a crescer desmesuradamente e outras quase a apodrecer, esquecidas por todos inclusive os próprios que lá habitam. Em termos de urbanismo, há muito para fazer e é pena que não haja essa consciência clara por parte de quem governa.
As casas estão todas praticamente inacabadas, com exceção dos compounds e das casas de gente rica e embaixadores.
Há novas áreas a nascer, um pouco mais organizadas mas caem quase fora de contexto, tal é a desordem.
As ruas praticamente não são alcatroadas, com exceção da rua das embaixadas que parece que todos os meses leva um tapete novo. Esta gente é esquisita...
Política:
Dizem que há muita corrupção, e do que vi apenas constato até ao momento que há poucas fronteiras definidas entre a meritocracia e os laços familiares com elementos do governo. Dirão que isso há em todo o lado, é verdade, mas esta cidade é uma aldeia grande, onde todos se conhecem e sabem quem são. Quase sempre que me apresentam alguém há a necessidade de dizer qual o elo que o liga àquele sítio: é casado com não sei quem, é irmão ou cunhado de não sei quem, enfim, coisas desse género.
A política está muito ligada às atividades diárias das pessoas e isso não resulta positivo para o pensamento próprio.
Condução
As pessoas conduzem que nem loucas, completamente desorganizadas. Para piorar, as estradas não estão marcadas, geralmente são estreitas e com buracos e pouca iluminaçao.
Há poucos carros (quem os tem são elementos do governo, ONG e empresas), depois há microletes (espécie de transporte público em todas as suas vertentes (andam dentro das vans e pendurados nelas) e táxis, muitos deles todos kitados e aos quais evito ter sequer a necessidade de entrar em algum. E depois há as motas, MUITAS motas, que andam pela esquerda, direita, atravessam-se à frente dos carros, pessoas, etc. Já começam a usar capacete mas acho que é mais pelo estilo ou pela proteçáo do pó do que propriamente pela necessidade de segurança.
O valor da vida aqui é muito diferente do nosso...
Já conduzi algumas vezes aqui e ainda não me oriento nas estradas, até porque tenho o volante do lado direito, mas é algo que rapidamente me irei habituar.
Pessoas
As pessoas têm geralmente um ar afável e simpático. Há outras que até o podem ser, mas com os traços que apresentam quase parecem uns mafiosos, daqueles que a qualquer momento sacam de uma pistola e desatam a matar pessoas. Dizem que os timorenses são muito passionais e ajustam muitas contas assim, mas é mais entre eles, que se metem com as famílias uns dos outros e com as mulheres alheias (é o que dizem pelo menos).
Também costumam atirar pedras ao pessoal de vez em quando sem razão aparente ou se existe um estabelecimento que despede timorenses vão para lá atirar pedras e amedrontar para que voltem a contratar pessoas locais.
Aparentam ser um pouco preguiçosos. Não têm o sentido do dever mas parecem nao reinvidicar muitos direitos, o que é pena...
Gostam muito do Cristiano Ronaldo (?) e fazem por se parecer em aspeto com ele, o que não resulta nada feliz. Ainda não vi nenhum timorense bonito. :p
Malais:
Os malais que tenho conhecido são, regra geral, simpáticos. Mas vejo muita diferenciação em todo o lado no trato. Eles tipicamente só se dão com outros malais e não há muito entrusamento. Uma razão tem a ver com a língua. Estranhamente, não há muitos malais que tenham ou queiram aprender tétum. Outros é a própria timidez do povo timorense, porque como não sabe comunicar connosco também tem vergonha de falar. E depois há um preconceito latente em relação aos timorenses, é inegável.
Língua:
O tétum é esquisito pa caraças, mas vou aprender. Sei que vou ter muito mais prazer quando conseguir comunicar com eles e eles sentirem do outro lado que há alguém branquela que fala a sua língua, que se esforçou para tal. Tenho de apanhar umas aulas em atraso e espero recuperar e daqui a um mês já dizer umas coisas.
Clima:
Isto aqui é uma brasa que nem vos conto. É diferente de Portugal, mas equipara-se talvez àqueles dias quentes de Verão em que só se está bem ou dentro de água ou junto de um bom AC. No trabalho temos AC e não nos apercebemos da temperatura mas sempre que apanhamos o bafo da rua, vem uma caloraça do pior. É quente, húmido mas ao mesmo tempo delicioso quando estamos no ócio. Por isso, só chateia quando temos de ir trabalhar :p
Ainda não fui à praia, e ainda só apanhei verdadeiramente um dia de piscina à seria no sítio onde moro, e foi muito bom. A minha cor esquálida não me permitiu aproveitar o sol em pleno mas com calma lá chegarei :)
Comida:
A comida pode ser variada mas anda sempre à volta de arroz, massa, galinha e cenas. Já deixei um pouco as mariquices das bactérias mas ainda tenho alguns cuidados. Tenho saudades de leite (eles não o bebem), do nosso pão (cá há 2 variedades o p\ao de Timor e o pão de forma). As coisas são caras no supermercado mas ainda não comprei muita coisa. Acabo por comer sempre fora. Mas com o tempo quero ver se me dedico mais à divisão da cozinha onde tipicamente vou buscar água para beber :p
Bichos:
No sítio onde moro, felizmente não há muitos bichos. Uns tekés (bebés de tokés) e uns animais voadores. Na cidade, encontram-se mais mosquitos mas nada muito anormal, do que vi até agora. Fora dos distritos dizem que é pior. Aí é a selva :)
Fora de Dili, há de tudo: vacas, cabras, porcos, galinhas, cães, búfalos, crocodilos e com exceção dos dois últimos, os outros adoram andar no meio da estrada!!!
Cheiros:
Dili não cheira bem. Quando está muita gente não cheira nada bem. No compound onde estou temos um jardim bem tratado com flores e aí parece que estamos na civilização, mas fora daqui não há bons cheiros. Não quer dizer que seja um horror mas perfume também é coisa que se evapora rápido por aqui. :)
Ainda não tenho fotos para ilustrar o que os meus olhos absorvem por aqui, mas irei partilhando à medida que as tiver.
Espero que fiquem curiosos para próximas leituras e, quem sabe, me façam uma visita um dia destes.
Vale a pena sair da zona de conforto para olhar o mundo com outros olhos :)