terça-feira, 12 de março de 2013

Harlem Shake @ Timor Telecom

Ontem foi um dia diferente na TT. Decidimos dar o exemplo à moda mundial de fazer um harlem shake no matter what, no matter why :)

E de modos que o resultado, para um povo que não está muito habituado a expressar-se desta forma, sem preparação, quase de impulso e improviso, foi este:

http://videos.sapo.tl/JUwe2nDGMDqS0NtQQ1K4

Foi divertido ver alguns timorenses a usar da sua imaginação (e que imaginação de alguns!) influenciados pelos malais em seu redor a fazer um fim de tarde de uma qualquer segunda-feira bem diferente :)

O depois, foi o que se viu :)

Ainda dizem que não se faz nada aqui do outro lado... :p

Bjs!

sábado, 9 de março de 2013

Viagem aos distritos: Ermera e Lautem

17/02/2013

Comecei a minha incursão pelo verdadeiro país que é TL. Em duas semanas visitei parte de 2 distritos: Ermera e Lautem 




Tenho feito estas visitas a título profissional, onde parte das minhas funções integram a validação e verificação do estado das lojas da TT. Como temos 12 fora de Dili, e estas têm sido reestruturadas, quando as obras terminam, vamos fazer uma inauguração, com fitinha azul e bolinhos e cenas :D

Assim, na 1ª semana de trabalho fui a Gleno - distrito de Ermera. Demorei cerca de 3 horas na viagem, conduzida por um local com experiência, o sr. Domingos. O que antes parecia uma eternidade, como ir de Lisboa ao Algarve ou ao Porto, aqui é quase considerado um tirinho.



Gleno é uma cidadezinha plana, que fica num vale, rodeada de montanhas e, claro está, de difícil acesso. Aqui andar nos distritos definitivamente só com jipe.
A loja da TT remodelada sobressai claramente do panorama geral da cidade. É um sítio claro, amplo com luz e arrumadinho. Tem escolas, mercadinhos, casas, posto de segurança e pouco mais. Mas é cidade! 



Como foi a minha primeira viagem e ia a trabalho não fui convenientemente preparada com máquina e essas coisas, pelo que terei de lá voltar para poder fotografar convenientemente o que vi da cidade. 
O que fica da viagem: um caminho sinuoso, cheio de buracos, crateras mesmo. Pois buracos nós temos em Portugal. Aqui assume-se claramente todo um novo vocabulário para adjetivar aqueles desníveis na "estrada", onde as aspas claramente são propositadas :D


E nesta semana fui a Los Palos - distrito de Lautem. No mapa e na estrada, fica bem longe, na zona sudeste. Para lá chegar, demora-se umas belas 7 horas. Assim, tive de ir no dia anterior e pernoitar num "resort" perto, em Com. As fotos ilustram o sítio. Um local tranquilíssimo à beira mar plantado, humilde mas com qualidade de resort. Diz quem já teve mais experiências que isto não é nada mau (me-do...)



O caminho para chegar a qualquer lugar em TL é só um, por isso não há grande alternativa senão seguir pela "estrada" definida. Fui novamente com a minha diretora e o sr. Domingos que é óóóóóóótimo a conduzir nestas estradas. Se fosse eu a conduzir, teria demorado mais uma boa metade do tempo e com possibilidade de ficar apeada em algum lugar.

Mas o mais deslumbrante de tudo, são as paisagens no caminho para Los Palos. São incríveis, em planícies verdes, cheias de arrozais, com animais por toda a parte, pequenas aldeias à beira da estrada, entre algures e nenhures mas cheias de gente, crianças principalmente, que abundam por todos os sítios, mesmo aqueles inóspito onde achamos que não vamos encontrar ninguém.



No caminho, passámos por Manatuto e Baucau, sempre com paragem obrigatória nas lojas da TT. Comi uma refeição maravilhosa, a melhor que já comi nestas 2 semanas na Pousada de Baucau que tem um aspeto merecedor do nome :)



Quando estávamos em Los Palos, caiu uma carga de água de tal ordem que inviabilizou uma visita a uma lagoa muito conhecida naqueles lados. Ficou para outra altura...(?)

Por causa da chuva diluviana que caiu sobre nós e devido ao excelente estado das estradas, tivemos alguns sustos pelo caminho. na noite anterior, ficámos momentaneamente com o jipe preso num buraco cheio de água, onde não se via nada (nota: não há iliminação pública, por isso quando escrevo que não se via nada, não se via nada MESMO). Com a calma e experiência do condutor, lã conseguimos tirar o carro. Mas isto só podia antever o dia seguinte. Choveu a potes durante um bocado e tivemos as consequências :)

No caminho de regresso, tivemos de parar a certa altura na margem de um rio, pois a ponte que lá existia.... não estava lá.... Ou melhor, ela estar estava mas debaixo de cerca de meio metro de água que jorrava de um lado para o outro arrastando qualquer coisa que por lá se aventurasse no meio.

Já só pensava em como sair dali ou melhor, quando conseguiria sair dali, porque conduzir de noite naquelas estradas não traz a melhor sensação do mundo. Estivemos retidos cerca de 1h30, até que o nível da água começou a baixar e os timorenses, loucos, só podem ser loucos começaram a querer fazer-se á vida.
A sequência abaixo ilustra a loucura de um condutor que, trazendo uma camioneta CHEIA de pessoas, se aventurou a passar o rio, quando este ainda estava bastante forte. Por sorte, safaram-se todos, mas vivemos ali momentos de clara angústia e suspense, quando a camioneta começou a dar de si e a aproximar-se do declive.
Enfim, não são malucos, simplesmente o valor da vida e a noção de perigo não correspondem minimamente aos padrões ocidentais (ou pelo menos ao meu :p) 




Para terminar, no caminho ainda pudemos ter um daqueles awkward moments, onde vemos um passageiro numa microlete, mas em vez de ir dentro dela (que seria normal) ou apeado nela (igualmente normal mas a um preço inferior), ia montado numa motorizada que por sua vez ia presa à microlete. E com todo o tempo do mundo, ainda se sentia seguro para estar a fumar e ir agarrado apenas com uma mão. :D
A foto não é fantástica porque foi tirada dentro do carro mas dá para ilustrar o surrealismo da coisa. Lá imaginação para estas coisas eles têm! E mais uma vez, uma brevíssima noção do risco. 



Mas à parte o trabalho, o que fica destas experiências?

Um sem número de memórias, de vivências intensas, de colocar o coração nas mãos mas também relativizar a nossa passagem por aqui. Em Timor nota-se muito isso: hoje somos nós, amanhã serão outros e caberá a cada um deixar a sua marca. Mas se não deixar cá uma marca, que cada um de nós saiba pelo menos levar parte de Timor consigo, na memória, na pele, na estrutura do pensamento.

Efeito de Halo

10/02/2013

Olá!

Bom, o que tenho para vos contar com uma semana?... Impressões e pouco mais...

À primeira vista, a cidade de Dili é feia, mas depois de procurarmos um pouco melhor, conseguimos ver alguma beleza em pequenas coisas que não saltam à primeira vista. :)
Falando por temas e de forma organizada, ao contrário do que se vê por aqui :)

Organização urbanística:
É uma cidade suja, maltratada e muito pouco cuidada. As pessoas não zelam pela manutenção, têm alguma preguiça em fazer melhor e em cuidar. Então depois o que vemos são várias assimetrias, zonas a crescer desmesuradamente e outras quase a apodrecer, esquecidas por todos inclusive os próprios que lá habitam. Em termos de urbanismo, há muito para fazer e é pena que não haja essa consciência clara por parte de quem governa.
As casas estão todas praticamente inacabadas, com exceção dos compounds e das casas de gente rica e embaixadores.
Há novas áreas a nascer, um pouco mais organizadas mas caem quase fora de contexto, tal é a desordem.
As ruas praticamente não são alcatroadas, com exceção da rua das embaixadas que parece que todos os meses leva um tapete novo. Esta gente é esquisita...

Política:
Dizem que há muita corrupção, e do que vi apenas constato até ao momento que há poucas fronteiras definidas entre a meritocracia e os laços familiares com elementos do governo. Dirão que isso há em todo o lado, é verdade, mas esta cidade é uma aldeia grande, onde todos se conhecem e sabem quem são. Quase sempre que me apresentam alguém há a necessidade de dizer qual o elo que o liga àquele sítio: é casado com não sei quem, é irmão ou cunhado de não sei quem, enfim, coisas desse género.
A política está muito ligada às atividades diárias das pessoas e isso não resulta positivo para o pensamento próprio.

Condução
As pessoas conduzem que nem loucas, completamente desorganizadas. Para piorar, as estradas não estão marcadas, geralmente são estreitas e com buracos e pouca iluminaçao.
Há poucos carros (quem os tem são elementos do governo, ONG e empresas), depois há microletes (espécie de transporte público em todas as suas vertentes (andam dentro das vans e pendurados nelas) e táxis, muitos deles todos kitados e aos quais evito ter sequer a necessidade de entrar em algum. E depois há as motas, MUITAS motas, que andam pela esquerda, direita, atravessam-se à frente dos carros, pessoas, etc. Já começam a usar capacete mas acho que é mais pelo estilo ou pela proteçáo do pó do que propriamente pela necessidade de segurança.
O valor da vida aqui é muito diferente do nosso... 
Já conduzi algumas vezes aqui e ainda não me oriento nas estradas, até porque tenho o volante do lado direito, mas é algo que rapidamente me irei habituar.

Pessoas
As pessoas têm geralmente um ar afável e simpático. Há outras que até o podem ser, mas com os traços que apresentam quase parecem uns mafiosos, daqueles que a qualquer momento sacam de uma pistola e desatam a matar pessoas. Dizem que os timorenses são muito passionais e ajustam muitas contas assim, mas é mais entre eles, que se metem com as famílias uns dos outros e com as mulheres alheias (é o que dizem pelo menos).
Também costumam atirar pedras ao pessoal de vez em quando sem razão aparente ou se existe um estabelecimento que despede  timorenses vão para lá atirar pedras e amedrontar para que voltem a contratar pessoas locais.
Aparentam ser um pouco preguiçosos. Não têm o sentido do dever  mas parecem nao reinvidicar muitos direitos, o que é pena...
Gostam muito do Cristiano Ronaldo (?) e fazem por se parecer em aspeto com ele, o que não resulta nada feliz. Ainda não vi nenhum timorense bonito. :p

Malais:
Os malais que tenho conhecido são, regra geral, simpáticos. Mas vejo muita diferenciação em todo o lado no trato. Eles tipicamente só se dão com outros malais e não há muito entrusamento. Uma razão tem a ver com a língua. Estranhamente, não há muitos malais que tenham ou queiram aprender tétum. Outros é a própria timidez do povo timorense, porque como não sabe comunicar connosco também tem vergonha de falar. E depois há um preconceito latente em relação aos timorenses, é inegável.

Língua:
O tétum é esquisito pa caraças, mas vou aprender. Sei que vou ter muito mais prazer quando conseguir comunicar com eles e eles sentirem do outro lado que há alguém branquela que fala a sua língua, que se esforçou para tal. Tenho de apanhar umas aulas em atraso e espero recuperar e daqui a um mês já dizer umas coisas.

Clima:
Isto aqui é uma brasa que nem vos conto. É diferente de Portugal, mas equipara-se talvez àqueles dias quentes de Verão em que só se está bem ou dentro de água ou junto de um bom AC. No trabalho temos AC e não nos apercebemos da temperatura mas sempre que apanhamos o bafo da rua, vem uma caloraça do pior. É quente, húmido mas ao mesmo tempo delicioso quando estamos no ócio. Por isso, só chateia quando temos de ir trabalhar :p

Ainda não fui à praia, e ainda só apanhei verdadeiramente um dia de piscina à seria no sítio onde moro, e foi muito bom. A minha cor esquálida não me permitiu aproveitar o sol em pleno mas com calma lá chegarei :)

Comida:
A comida pode ser variada mas anda sempre à volta de arroz, massa, galinha e cenas. Já deixei um pouco as mariquices das bactérias mas ainda tenho alguns cuidados. Tenho saudades de leite (eles não o bebem), do nosso pão (cá há 2 variedades o p\ao de Timor e o pão de forma). As coisas são caras no supermercado mas ainda não comprei muita coisa. Acabo por comer sempre fora. Mas com o tempo quero ver se me dedico mais à divisão da cozinha onde tipicamente vou buscar água para beber :p

Bichos:
No sítio onde moro, felizmente não há muitos bichos. Uns tekés (bebés de tokés) e uns animais voadores. Na cidade, encontram-se mais mosquitos mas nada muito anormal, do que vi até agora. Fora dos distritos dizem que é pior. Aí é a selva :)
Fora de Dili, há de tudo: vacas, cabras, porcos, galinhas, cães, búfalos, crocodilos e com exceção dos dois últimos, os outros adoram andar no meio da estrada!!!

Cheiros:
Dili não cheira bem. Quando está muita gente não cheira nada bem. No compound onde estou temos um jardim bem tratado com flores e aí parece que estamos na civilização, mas fora daqui não há bons cheiros. Não quer dizer que seja um horror mas perfume também é coisa que se evapora rápido por aqui. :)

Ainda não tenho
 fotos para ilustrar o que os meus olhos absorvem por aqui, mas irei partilhando à medida que as tiver.

Espero que fiquem curiosos para próximas leituras e, quem sabe, me façam uma visita um dia destes. 
Vale a pena sair da zona de conforto para olhar o mundo com outros olhos :)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Enquadramento

04/02/2013


Um enquadramento prévio para a existência deste blogue torna-se necessário. Até para que depois um dia, quando o Alzheimer me ou vos conhecer, percebamos porque escrevemos ou lemos estas coisas :)

Estava em Portugal com uma vida "compostinha" e por um conjunto de razões, tantas ou só uma, que não interessam explicar agora, vim para viver e trabalhar para Timor-Leste (TL). Parti a 31 de janeiro de 2013 num périplo de aterragens e descolagens e cheguei a TL no dia 02 de fevereiro.

Decidi arriscar neste desafio nesta fase da minha vida. Este era o momento de sair da zona de conforto, de experimentar o desconhecido, de viver uma aventura. Recomeçar do zero algumas coisas e reforçar tantas outras que talvez venha a redescobrir, a reaprender, a revalorizar.

As mudanças serão a nível pessoal, social e profissional, pois aqui, com exceção de um laço afetivo, tudo será novo, tudo será para construir. Não sei se o adjetivo mais correto é coragem ou insanidade, mas saberei dizer com mais certeza daqui a algum tempo. :)

Exporei os relatos das minhas principais experiências e descobertas nestas terras e partilharei tudo isso com quem quiser acompanhar-me nesta aventura. Não sei se saberei ser fiel à realidade que me rodeia, pois será sempre uma perspetiva enviesada da realidade, a minha visão das coisas.

Mas escreverei acima de tudo o que vejo, o que sinto, tentando demonstrar todas as sensações e experiências que por aqui for vivendo. Conto com os vossos comentários, caso queiram partilhar também a vossa opinião :)

Beijinhos!***